terça-feira, 27 de setembro de 2016

Tristranhos

Abraço a tristeza como uma velha amiga que me traz versos. Flertamos, antecipando um coito impuro e incomedido. Trepamos. No fim, ela me abraça, e não me quer deixa ir: Diz que sente minha falta, que tem saudades de meus versos, e que eles eram tão seus, e que tem ciúmes das coisas, segundo ela menos bonitas, que tenho escrito às outras. Ela diz que gostaria de estar nas linhas que tenho escrito, e diz que éramos um, feito carne e unha. Eu a fito, nua, e sorrio. Eu a fito e olho dentro dela com a propriedade de quem a conheceu como poucos. Olho dentro dela apenas por olhar, sem rancor ou saudade. Estamos ali, ocupando o mesmo quarto, mas não mais a mesma alma. Eu a solto e me afasto, e ela se vai, silenciosa. E, enquanto termino esses versos, já somos estranhos.