segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O Viking

braços e remos
prumam...

estrela polar
horizonte escuro
destino incerto...

vento favor
proa no mar
remar sem cansar
rumar, rumar...

estalam, gemem
popa, proa e leme...

vela içada
seguir estrela
o Norte à frente

memória ingrata
saúda a dama
que em terra firme
aguarda a volta...

que volta?

Corpo indolente
traz para a luz
o vento que corta...

corta na carne
sem piedade
frio e infame
vento saudade!

o fim do mundo
nos aguarda
hordas sem fim
de bravos sem nome
em lanças-escudos...

e o fim de tudo
ao alcance das mãos,
num grito mudo...

Liberdade por fim!

um remar sem temer
num sangrar de saudades
da dama que abriga
o rebento que cresce...

domingo, 23 de janeiro de 2011

O dia em que as palavras sumiram

Choveu, e só fez chover,
Foi feio, feio e nublado,
e triste, triste de doer,
o dia que as palavras sumiram!

Partiram, e não de um lábio,
nem verteram, de pena alguma,
apenas foram-se, uma a uma,
feito fila muda, e desavisada.

Endereço ou recado deixaram,
nem agrado aos ouvidos,
sopraram...

O tempo de palavras fartas,
é tempo passado, são tempos idos...

Preposição alguma ficou:
Onomatopéias calaram,
Os sujeitos morreram,
e adjetivos perderam,
seus predicados!

Voltarão as palavras,
a adoçar meus ouvidos,
descrever-me a vida,
e aguçar meus sentidos?

Voltarão, períodos,
a compor partituras,
e em arroubos divinos,
recriar criaturas,
e matá-las depois?

Tornarão a escrever,
em barulhentas pinturas,
as loucuras e tolices,
sandices bem cruentas,
que prescindem de vós?

Voltem, palavras,
sois de muito a vazão:

Toda essa mente inquieta,
tem em ti maior precisão,
pois sois também a razão,
dessa vida tão completa,
de Aprendiz, Desatino,
e quiçá um dia, de Poeta.