quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Poema das Horas

Onde foram parar meus 27 anos?
Não lembro de tê-los vivido...
Onde estão escondidas todas as horas?

Será que estão nas demoras,
das filas de padaria?

Estariam nas emoções que descartei,
nos nãos que acatei, silencioso e resignado,
ou mesmo nos sins que falei,
a penas de ter concordado,
por concordar?

Por qual dedo fugiram, astutos minutos?

Ou ficaram presos à agonia muda de um orgulho bobo?
Ou no aguardo da perfeição que inexiste?
Ou será, que de forma mais triste,
estão na angústia de viver tal tempo perdido?

Quiçá estejam na tentativa vã,
de dar à vida algum sentido...

Ou tenham mesmo se escondido,
na letargia covarde de quem não partilhou de meu afã...

E em qual dos 27 verões,
foram parar meus segundos?
Deixei-os surdos em serviço de outrem,
Ou em noites mal dormidas, como as de ontem?

Onde estão vocês, horas mortas,
senão no aguardo de quem não veio,
ou no meio de um erro ou outro?

E farão sentir-se como falta,
quando isso estiver morto,
as horas de tantos desgostos?

Temo que sim...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Clara

Queres parar?

O fogo toma conta,
incendeia a floresta,
da fagulha não mais resta,
sequer alguma ponta!

Logo o fogo, incontrolável,
cerca, por todos lados,
e aflora de forma afável,
os mais doces dos pecados!

E eu te toco!

E me sentes,
mesmos, distantes,
estamos presentes...

Mesmo passados,
somos correntes...


E me prendes...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Habite-se

O mundo que habito,
por vezes, sem cor,
noutras, bonito,

Tem peso de ar,
e cheiro de vento...

E feito do que invento,
nada tem de constrito,
é ilimitado, infinito,
feito do que imagino...

O mundo que frequento,
é mundo do aprendiz,
feliz poeta, Desatino!

Tão sem fronteiras,
eiras ou beiras,
um mundo irrestrito!

Sem mentira ou verdade,
e nada de tiranias,
e sim gosto de liberdade!

Feito de fantasia,
sem traumas ou apatias,
n'alma está recluso,
esse mundo tão confuso...

Minha droga mais querida,
minha fuga preferida,
disso tudo, anestesia,
é decerto esse meu mundo,
conhecido por Poesia...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Palavra...

E queima, cor de sol...
e teima, ah, teima...
firme, pede passagem,
não perde viagem,
nem se arrepende...

A palavra é o que há,
e discretiza...
e escraviza...
tanto quanto um gosto,
ou um querer...

O poder da palavra está
onde a palavra falha...
quem quer que dela se valha,
é falho.

Palavra não é ato,
palavra não tem cheiro ou cor,
mas ela mostra o substrato,
ou tenta...

A palavra descreve,
a palavra se atreve,
levar adiante,
sua mais grave falha:
a palavra se atrapalha!
Por si só,
quando tenta explicar,
dificulta,
seja ela domada, seja ela culta...

A palavra quando sai,
já sai torta...
e quando chega,
chega...
mas chega morta...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Solto

Finalmente,
nossos...

Sou meu,
tu és tua,
fostes minha,
e eu, fui teu...

Num quarto,
de pousada,
testemunhou,
o mar...

Vigiava-nos!
ao longe,
o que marulho,
ensurdeceu,
e ondas,
acobertaram...

Marulho,
salgado,
adentrando,
a janela...

a brisa,
gélida,
e fria,
como noite,
qualquer,
de inverno,
da sacada...

e ali,
inerte,
presa,
por mim...

meus braços,
correntes,
ancoram,
meu ser,
em ti...

porto,
inseguro,
porto,
futuro
algum,
reserva
o amanhã...

só partir...

e presente,
na lembrança,
sempre,
na imensidão,
do marulho,
que ecoa,
em mim...

você...

sábado, 9 de outubro de 2010

Nulidade

Nulo não é branco,
é algo bem mais franco:

Nulo é discordar de tudo,
do que está posto,
e do que é o mundo...

De não concordar, motivo,
resulta de grande crivo,
nada tem de analfabetismo,
e é portanto, nada nocivo:

Motivo não é apatia ou sinismo,
Quiçá, o é exato oposto:
Muitas horas de estudo,
e bons punhados de desgosto...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Pensamento número dois

É paradoxal a busca incessante pelo prazer de uma aspiração atingida.

Geralmente o prazer é bem menor do que parecia no início do caminho.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Garganta

Tudo vira verso:
Tanto falta,
quanto excesso...

O tempo remedia,
tanto o que dói,
quanto o que angustia...

De tudo a vida se encarrega:
tanto do que se aceita,
quanto do que se nega...

E acerca de tudo o poeta versa:
Naquilo que versa e expressa,
Mais daquilo que à garganta

Atravessa...

A vida de um poeta

Dúvidas sempre cercam,
o pensar de escritor pesaroso:
É sabido que afetos afetam,
seu cunhar mais meritoso...

O poeta não é instrumento,
nem sua pena à qualquer outro serve:
É fruto de seu próprio tormento,
ou de algo que o enerve...

Um poeta nunca é breve,
(o que é breve não é fecundo)
e um poeta só sente-se leve,
ao tratar de algo profundo...

Enquanto usa de enxada,
as suas maiores astúcias,
revolve como toada,
o arado de suas angústias...

E tira mais que proveito,
ao buscar seu entendimento:
Por vezes algum deleito,
nesse ou naquele tormento...

Tal labuta laboriosa,
o tempo de toda essa lida,
dessa lida astuta e formosa,
é o tempo de uma vida:

Uma vida em verso e prosa.

sábado, 25 de setembro de 2010

Meus poemas

Sim, todos são meus,
todos meus são...

Meus poemas,
minhas rimas,
minhas tremas,
abolidas...

Também o são:
Histórias,
sentidos,
memórias,
grunhidos...

E medos,
vividos,
em segredos,
escondidos...

Sim,
pertencem a mim:
Todos acertos,
alguns apelos,
e muitos apertos,
pelos quais passei:

Murros que dei,
e chutes também,
e o que levei,
logo de quem...

Ninguém sai ileso,
ou mesmo se esquiva,
dado estar preso,
quem quer que viva,
à grandes verdades:

Sofrer por amor,
errar por medida,
morrer de saudades,
são coisas que a vida...

escreve...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Arte

Suas auguras,
minhas mulheres,
então nossas juras,
cheias de afagos...

Minhas pinturas,
e nossos desejos,
belas ranhuras,
nos azulejos...

Tudo lembra arte...

Tintas, brochuras,
e bons amassos,
certas posturas,
alguns embaraços...

Tolas usuras...

Meus descompassos,
beiram loucuras:

Sigo teus passos,
por ruas escuras...

Por onde não andas...

Pelas quais não... Figuras!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A maior prisão

Animais estes, tentam ser deuses,
e ver suas vozes ouvidas,
pois temem poder do silêncio:
Ele mostra as reais medidas...

É no silêncio que se medita,
onde se mostram as verdades,
se desfazem crenças benditas,
e perdem valor, tolas vaidades.

No silêncio vê-se quão finito,
é o alcance da mente humana,
e dado sentir tão restrito,
que à alma o sentir profana...

e engana...

A alma sim, irrestrita,
presa à cinco formas de visão,
deseja livre, e então constrita,
anseia expirar, de sua prisão...

e respirar...

No silêncio reside a alma,
é ali que faz morada,
e é nela que está o trauma,
e é ela que à morte aguarda...

Liberdade...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Meu Jardim

tempo de poda
em meu jardim

extirpam-se folhas secas,
ramos mortos,
e todo o mau
que há em mim

sobram caule,
e folhas verdes,
algumas apenas

dada importância
de respirar

jardim podado,
faço arado
e planto semente
e rego a contento

boa semente,
estrelas, firmamento,
e terra arada,
fofa e regada

olho as estrelas
e torço que o sol
meu raio de sol,
não tarde chegar
dada a importância

de respirar
por fotossíntese

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Estocástico

Dado que A ocorreu,
(e o pobre Zé Morreu),
e dado que o Zé não sou eu,
fustigar o tempo que falta...
variável aleatória e peralta,
de um processo estocástico,
que eu não controlo,
ou processo de Pois(s)on,
independente e distribuído identicamente,
o tempo restante é uma variável aleatória,
(e sem memória)
não depende do quanto vivemos,
o tempo que inda temos...

Poisson para os saltos,
amplitudes variam, para cima e baixo,
como Poisson composta,
na roleta da existência,
cada aposta,
esperança desconhecida, e função não conhecida,
de probabilidade cumulativa,
para o tempo que resta de vida...

E um dia, o 1 chega...

sábado, 14 de agosto de 2010

Sinceridade

Num mundo tão descartável,
com tantos valores perdidos,
sobra a lembrança afável,
de dias melhores vividos...

De canto, quase esquecidos,
tal qual uma roupa surrada,
sentimentos que davam sentido,
ao respirar de quem foi vivo,
e nunca serviu de manada,
quem da razão sempre fez crivo:

Perdeu-se a sinceridade,
nas artes, atos, palavras:
Não se lavram mais as verdades,
que a vaidade humana entrava...

...visando opulência e riqueza,
em detrimento de decência e firmeza,
de caráter, justiça e verdade,
mataram a dama mais bela:

Enterraram a sinceridade.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Como a vida é simples...

Engraçado como a tristeza,
se esvai com um verso ou dois:
Basta deixar de moleza,
escrever agora, e pensar depois!

À alma morta

O apreço que guardo
por silêncio e reserva,
preserva o que é nato,
e amplia o que enerva...

A cada percalço no verso,
perverso se sente o poeta:
Não poder escrever o universo,
da tristeza da alma discreta...

Maldita ideia funesta,
evitar a honesta empresa,
de deixar sair o que sente...

Ao mundo então, tão somente,
dado que ninguém se importa,
as migalhas da mente doente,
do poeta da alma morta...

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Funeral à céu aberto

O centro quase parou,
muitos vieram pra ver,
a vida que então cessou,
embaixo de um carro vermelho.
-
Alguns viram das calçadas,
outros, nem ver quiseram,
uns amontoaram-se às sacadas,
e mais pessoas vieram.
-
Ambulâncias então chegaram,
o trânsito foi desviado,
e homens da lei cercaram,
malogrado carro vermelho!
-
Levaram o corpo sem vida,
restante, apenas matéria,
a alma portanto exaurida,
seguiu em jornada etérea.
-
O guincho com o carro partiu,
mas há vermelho no chão,
da vida que se extinguiu,
de um filho, pai, ou irmão,
-
d'algum outro qualquer,
que chance teve, sequer,
do que narra o desconhecido,
estar por perto pra ver:
-
Seu ente amado e querido,
embaixo de um carro... morrer...

D'Algumas pessoas...

parparlhar de folhas de chumbo,
arrulhar de um mundo de pombos,
sons de grunhidos ao fundo,
emanam de todos escombros...

resquícios d'alguma moral,
que assombram os pesadelos,
daqueles que para o mal,
ousaram guiar os apelos...

para tais ainda restam,
as noites mal dormidas,
que verdades pra si contestam...

e pálpebras escurecidas,
que dores na consciência...
...atestam.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Pensamento número um:

Você será feliz quando não precisar ser aceito.

E livre quando não precisar ser compreendido.

domingo, 11 de julho de 2010

A mágoa e a pena

Enquanto a pena desliza,
mais uma mágoa se esvai;
Da pena que então escraviza,
foge aquela que nunca sai...

A mágoa que a pena não alcança,
fundiu-se a alma do poeta,
inalcançável à qualquer lembrança,
dança e sorri enquanto à pena flerta...

E zomba da pena que nem criança:
Fazendo tromba, e fugindo esperta!

A pena

O sono não veio,
já cedo, tão tarde...
A noite, ao meio,
e a pena, covarde!

domingo, 4 de julho de 2010

Responde então, Dulce Maria

Respondera Dulce Maria,
ao marinheiro que tanto amava..

No teor de sua poesia,
saudade nos dias que contava...

E a solidão que então sentia,
de seus versos emanava...

...

“Em noites de meu pensar,
brilha estrela solitária,
ante o pesaroso luar...

Minh'alma temerária,
suspira ao vislumbrar,
quem te orienta ao navegares...

Avistar a estrela Polar,
só faz aumentar suspiros,
invés de mitigar pesares...

Noticias a mim tua morte,
e como esperas que me sinta?

Esperas que então eu minta,
que diga ser tão forte,
que possa seguir em frente,
que teria ainda um norte,
ou poderia ser contente,
Longe de teu peito?

Partistes contra a vontade,
desta que então te escreve,
logrei a Deus piedade,
de trazer-te são, em breve...

Mas o mar que de mim te leva,
e a Dama que se aproxima,
o desfecho que então se enleva,
é fadar de dor minha sina...

Não verte-ei chegar ao porto,
em lustroso madeiral, morto,
posto não suportaria...

Meu Ulisses, amor meu,
antes que morto a mim te tragam,
por veneno... morro eu!

domingo, 13 de junho de 2010

À Dulce Maria

Ao saber que morreria,

escrevera à razão de suas alegrias,

que atendia por Dulce Maria,

o experiente Marinheiro...



...


"À Querida de meus versos, minha Dulce Maria:




Em cada porto que ancoro,

Em toda boca que beijo,

teus lábios é o que devoro,

pois tudo o que mais ensejo,

é um muito de teu sabor,

e um mundo de teu furor!


Nem um pouco, nem um naco,

serei louco, se for parco,

o quanto disso de ti eu tiver...


Venha isso como vier,

que seja intenso e verdadeiro,

aos borbotões, mas muito mesmo,

tão forte, tão por inteiro,

que leve a vagar a esmo,

o mais vivido dos marinheiros!


Tal qual nau a deriva,

na imensidão do mar perdida,

esse sentir que então não priva,

nem teme qualquer ferida,

tal sentir, que não se esquiva...


Peito aberto, rumo o desconhecido,

Busco o sentir que traz à vida,

aquele sentir mais desmedido,

daquele querer, tão sem medida!


Já não sou eu tão mais forte,

me tire da escuridão inerte,

dê-me portanto um norte,

pois sei a data que vem a Dama...


...Aquela que não aceita flerte..."

domingo, 30 de maio de 2010

Saudades de meu amor

Saudades de meu amor,
meu amor que sequer existe,
faz de mim alguém mais triste,
a cada dia que não vem.

Meu amor que então me tem,
pensando ao longo do dia,
o quanto bom seria,
uma carícia desse meu bem...

Não demores, meu amor,
estejas onde estiveres,
sejas você quem for,
mas traga quando vieres,

O carinho de que preciso,
o cafuné que tanto quero,
e alguma falta de juízo...

Isso é tudo que de ti espero...

domingo, 23 de maio de 2010

O que sou?

O que sou desconhece nome
pois sou a mais pura fome
de tudo o que não vivi
e daquilo que não senti!

Sou o que desconheço
porém, tudo o que aprendo
também o que desmereço
e o tanto que vou vivendo.

Nas linhas de minha palma
nuances e matizes
talham de minh'alma
algumas das cicatrizes...

O que sou não é quem
como disse o filósofo poeta
talvez ninguém seja alguém
e tal verdade, tão dileta
se aplicaria a isso, também.

sábado, 8 de maio de 2010

This is what you did do to me!

I'm thinking in you,
but by now it's strange,
'cause things are being true,
and I don't wanna change...

This is my way,
here in my place,
I don't wanna play,
I'm just looking for peace...

But by now,
I don't know how,
you did do that:
You are in my mind,
and you turned me black...

I will give to these lines,
a piece of my blue,
that feelings that i get,
always I think in you.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Poesia verdadeira

Poesia verdadeira

Ser verdadeiro,
de todo, por inteiro,
em algumas poucas linhas...

Pôr para fora a alma,
o que de dentro vem,
rimar a contento,
ao mostrar o que se tem,
e o que se é...

Dispor as frases bem,
por vezes é questão de fé...

O escrever é tão complexo,
de começo, tão confuso,
embaralhado e desconexo,
tão fugidio, quase um abuso!

De repente toma forma,
um substrato emocional,
ante toda e qualquer norma,
do ser dito racional:

E o nome disso, meus caros,
quem diria... É poesia!

Irrompe a represa moral,
na mais visceral empresa,
mostrar o que diferencia,
(procurando alguma beleza!)
o Humano do que é símio!

E o que nos distancia?
No que o humano é exímio?

Ingenuamente crer no amor,
abstrair o raciocínio,
da consciência ser consciente,
e ser mais de um, dentro da mente.

E nada pode ser mais verdadeiro que isso.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Maria, recebi teu aceite!

Enviastes teu aceite,
porquanto estou feliz,
conquanto não rejeites,
novo escrito que te fiz...

Não vejo em tal escrito,
algo heroico ou meritoso,
penso ser ele constrito,
frente a seu dever honroso:

Entoar a quem difama,
teu versar muito jeitoso,
cantar de quem desama,
tal ato, tão desditoso!

Entro agora, no refrão,
sonoro, e a eles, sobre Verdade:
Imploro, pois então:
Dispam-se de Vaidade!

Despojem-se agora,
sem demora ou desgosto,
do receio de viver!

Posto que tal receio,
de enganar-se é meio,
da falsidade é recreio,
e do bom versar é alheio!

Digo termos, livres disto...
Meio poeta!

Para receita de uma Maria,
algo mui mais completo,
cogita-se um quinhão,
de algo bem seleto:

Chama-se Sentimento,
(uns conhecem por tormento...)
De longe, neste momento,
meu ingrediente predileto!

sábado, 24 de abril de 2010

Maria, me adiciona no Orkut?

Bom dia, Maria!
Belo aparte,
linda poesia!

Nenhuma plastia,
no todo ou em parte,
melhor tornaria,
tão bela arte!

Apresento-me agora,
prometo ser breve,
a ansiedade devora,
quem te escreve:

Velho ainda não sou,
nada tenho, de menino:
O tempo a mim destinou,
por alcunha, Desatino!

Encantou-me tua poesia,
maestria e comoção,
nada melhor o faria,
tens retórica e emoção!

Quero partilhar,
desta tua convivência:
Anseia por teus versos,
minha aflita consciência...

Jures a meu deleite,
mostre-me um belo verso,
em ansiedade estou imerso,
enquanto aguardo teu aceite!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Viver no futuro não é viver

Viver no futuro,
ignorar o agora,
é tiro no escuro,
cultivar a demora...

...ou ficar sobre o muro...

Deixarei-te ir,
indecisão, não tolero!
Podes portanto, partir:
Teu retorno,
não mais espero...

...ou mesmo quero...

O que terás de mim?
Sempre descrença!
E um naco assim,
de indiferença!

Não há indeciso,
ou procrastinador*,
que algo mereça,
de minha querença...

...ou de meu amor...

Árvore seca

Quase inerte,
a despeito de qualquer vento,
destoa no firmamento,
qual paisagem nalguma arte...

Tão sóbrio canto,
seus galhos então estalam,
forma-se triste poema,
que os ventos então embalam...

Pouco ela se move,
alegria alguma finge,
posto que todos comove,
o canto que ela inflige...

Seu hino tão solitário,
vem de além da velha cerca,
ser por natureza gregário,
entoa seu corolário:
A solidão da árvore seca.

Coletivo

Coletivo...
bem comum:
Um para todos,
e esses em um!

Vai-se em apertos,
e solavancos,
anda-se aos trancos,
desce-se barrancos!

O coletivo é de cada um,
portanto, de ninguém,
no sacolejo, no vaivém,
vai-se tio, sobrinha, neném.

Assim também o poeta,
em postura discreta,
no fundo do coletivo,
porta papel,
e comportamento instintivo:

Escreve e observa,
o povo passivo,
que tanto o enerva...

A caneta?
Escapolindo!
mais um verso,
vai-se indo,
no jeito de uma toada...

Culpo o motorista,
que dirigindo,
deve pensar,
levar boiada!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Raio de sol

Como medir
um raio de sol?
É preciso sentir...

Meço um raio de sol,
comparando-o a ti,
posto o que senti,
tão logo a vi:

Tamanha alvura,
quando chegastes,
tão forte fulgura,
meus olhos cegastes!

Ah, e meu peito...
Outrora tão morto,
por agora, tão morno...
Dulcíssimo efeito!

Tudo iluminastes,
meus rumos, mudastes...
Mas meus prumos... perdi.

sábado, 10 de abril de 2010

Ao niilista

Tão vazia é a vida,
daquele que é niilista.

É tão triste quem não exita,
sobre os porquês de sua existência,
ou sobre a nobreza da consciência,
ou sobre o que de além exista.

A beleza não vem da resposta,
do que gosto, logo explico,
e descomplico pois, a questão:

De antemão a graça morre,
quando ninguém mais discorre,
sobre seu objetivo existencial,
sobre a distinção entre bem e mal,
e o que é ou não natural.

Perder isso é perder o viço,
ser omisso aos porquês é ser triste,
pois sem porquês, o Humano inexiste.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Motivação

Mas o que forja o poeta?
Questão primaz esta,
a ser portanto respondida:
Um tanto quanto de desmedida,
paixão não correspondida...

E alguma ausência de sorte,
numa experiência de quase morte...

E uma inquietude doída,
que remédio algum ameniza,
tal qual aberta ferida,
que o tempo não cicatriza:

Sobretudo, desconhecimento:
É decerto questão futura,
para além do firmamento.

Sobra então manter postura,
e abstrair-se do tormento,
inflar alguma vela,
e deixar-se ir ao vento.

Na vida não há manual,
que dirá então previsão,
distância entre bem e mal,
ou espaço para revisão.

Que venha então o vento,
pois as velas estão infladas.

Os Anões

Cavalgam cogumelos,
muitos e muitos anões,
de belos coloridos,
altivos e sabidos,
incontáveis anões...
...aos borbotões...

Uns contam seus oiros,
outros loiros, lorotas,
os azuis descascam bergamotas,
e os amarelos entoam cantigas,
das de roda, das mais antigas,
sobre proezas, odisséias e destrezas,
sobre Dalilas, Nicéias e tristezas...
...e Ninfas...

Os anões não findam,
cada qual com suas mentiras,
suas iras e auguras,
desventuras e desmedidas,
bravuras de alguma estória,
fruto de certa loucura,
ou de um lapso de memória.

Os anões tem grande apreço,
pelas coisas mais mundanas...
é sabido seu endereço:
Basta virar alguma esquina,
de uma fértil mente humana...

sábado, 3 de abril de 2010

A Prece

A bênção do fim do dia,
com imensa alegria Lhe peço,
Ao pão de hoje agradeço,
e começo a rezar o terço!

Busco conselho e sabedoria,
pois sinto imensa alegria,
mas tenho certo receio:
Não sei se tal menina partilha,
do que com tanto ímpeto anseio:

Não sei se devo dizer,
falar a ela o que quero,
dizer que dela eu espero,
um beijo ao entardecer,
e um afago puro e sincero.

Um beijo não mata ninguém,
levar um fora também...
Então, o que é que tem?
Bela prece, essa...

...Amém...

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sorria

Então sorria.
Simples assim:
Mostres teus dentes,
sejas contente,
sorrias para mim!

Nem um pouco importa,
Se você está em cacos,
Pois em mim são parcos,
os sentimentos por ti.

Estampes um sorriso no rosto,
ocultes todo e qualquer desgosto,
Não importam teus sofrimentos,
não causam a mim tormento,
nem me deixam angustiado.

Como tudo que é passado,
o que sinto por nossa história,
é tão belo enquanto guardado,
N'algum canto da memória.

Fofocas

Do que fazer a falta,
para a fofoca, é prato cheio!
A boa conduta ressalta:
Não ocupar-se do que é alheio...

Quem do que é de outrem,
não se dissocia e se ocupa,
digo o que tem na cuca,
esse que se alimenta de fofocas:

Tão infrutífero e débil intento,
se não for porção de vento,
bons punhados, de minhocas!

Ao que vive, o tempo é escasso,
marca passo, quem fofoca:
Na vida é grande retardo,
quem não usa, para o seu arado,
seu quinhão de vento, e de minhocas.

Amor irrecuperável

Amor não vivido,
é amor irrecuperável...
Já amor destemido,
é doce, nobre, e afável.

Pouco de afável,
tem a paixão:
Inexorável, sim,
como um turbilhão!

Não embaraça o ser,
que dela se compraz;
A paixão é devassa:
traz fervor quando vem,
e abstinência quando passa...

O tempo a desfaz, por certo:
A paixão nunca se demora;
Sua intensidade devora:
O peito, o ideal, e alma...

E o poeta.

Monopólio

É envolvente,
o vil metal!
Torpe e demente
o jogo flui...

O oponente,
sem clemência,
o jogar,
o destitui;

Da falência,
resta o espólio...
Triste jogo,
o Monopólio!

Parnaso

Parnaso!

Formosidade!
Teu rosto...
bem verdade?!
Apraz o gosto!

Tua forma?
Parnasiana!

Beldade!
Curto nome:
Três letrinhas:
Linda Ana.

Alguns detalhes

Assaltas meus pensamentos,
nos devaneios por vezes febris,
ah! Deus sabe como quis!

Ter-te, aqui e agora,
eu clamei teu nome!

Arauto disto este poema,
mestre de alguns detalhes,
ocultos, sinceros e verdadeiros.

Das doçuras do caminho

Ah! Se todos os caminhos levassem a tua boca!
Seria a vida tão mais doce;
queria eu que assim fosse...

Simples a vida seria:
Caminharia os caminhos,
de infinitos ladrilhos,
de longos os trilhos,

Para ter nos olhos o brilho,
resultante da doçura,
de um instante de loucura,
da delícia do teu beijo!

Valiosa aliada...

Além das fronteiras de tua alma
Calma esteve minha aliada...
Grande valia teve a bendita!

Sorrateira e renitente,
insistente e matreira,
nos meandros do teu ego,
tua vontade fez carreira!

Às portas de tua boca,
Ei-la então, a minha...

E já dançam as vontades!
Titubeiam belos passos...
ai-se indo o embaraço
e se enlaçam então as línguas [...]

Menina...

Serelepe!
Por que os repeles,
tais apelos?

ocultes o querer,
mates teu Ser,
assim só se padece!

Contra isso que arde,
que bem verdade,
tem nome, é vontade:

Vão é o esforço
que o tempo esmorece...
vã é a prece
que o lábio conhece!

Dois relógios

Dois relógios

Sete dias na semana
largos passos, nobre tempo
Sendo março ou janeiro,
marcha escasso e zombeteiro.

No relógio de pulso o tempo,
é como o próprio tempo se vê,
o relógio de areia já mostra,
o que a vida não tenta esconder:

No pulso o ponteiro circunda
e fim jamais ele encontra,
a areia mostra a verdade
que ao que é vivo conta:

Enquanto a areia desce,
o tempo se esvai astuto,
e um minuto que a vida acresce,
é um minuto que vai, arguto.

O que te faz feliz?

Praia e calor,
pomada no nariz,
um beijo roubado,
um pedaço de bis!

Um mala calado!
Escapar por um triz!
Palavrão desaforado,
daqueles que não se diz!

Um quente chá de anis,
e à noite que se anuncia,
ter a companhia que quis...

Uma donzela nos modos,
na cama, meretriz!
São essas singelas coisas
que fazem disso feliz!

Pimentinha

Que teriam os dias de graça,
sem um pouco de tempero?
manhãs mornas e frias noites,
não houvesse certa pirraça!

Tive já uma pimentinha...
Ao paladar, forte sabor tinha,
seu gosto, levarei ao sempre...

Vou murmurar, ao findo momento,
quando minha vida aos olhos passar,
antes das janelas d'alma cerrar,
leve, qual prece ao vento:

Marcia, desse jeito: Sem acento!

Mundo velho (Alma livre e Eu)

Mundo velho, mundo cão,
de transtornos e solidão,
velho mundo, mudou tanto,
que já está entrando areia...

Na veia não há mais sangue,
não há nada além de pranto,
e muito causa de espanto,
que nada disso nos espante!

Na moral do velho mundo,
o que não presta pisoteia,
o que é ruim, vem aumentando,
o que é bom, ninguém semeia!

Ninguém percebe o que permeia,
o coração de quem habita,
este velho e torto mundo:
o que lá tem é pouco fecundo,
tão triste e imundo...

Deste mundo sem beira ou eira,
vem a sorte derradeira:
Virá tal sorte a cavalo,
troteando as vaidades alheias...

Será então o fim de muita coisa:

Das colheitas sem plantio,
do amor ao que é vazio,
ao niilista por natureza.

Será finda a dor,
a febre e a tristeza,
a fraqueza de caráter!

Ansiamos serem extintas,
a presteza interesseira,
a ausência de bom senso,
a falta de nobreza,
a mediocridade e a avareza,
a inércia e a pasmaceira.

Pois para o velho,
há sempre o novo,
e para o novo,
sempre há tempo...

...quando há vontade,
iniciativa,
um pouco de bondade,
e uma mente criativa...

Virá um mundo novo,
de amor sincero e puro,
do que temos de melhor,
da luz ante o escuro...

E Conhecimento livre...

Dos Políticos

Porcos: todos o são.
E mais vos digo:
Sem exceção.

Mensalinho,
Concessão,
Castelinho,
Mensalão.

Sai ano:
Eleição.
Entra ano:
Decepção.

Pelo cano,
a distinção.
Generalizo,
pois então:

Porcos: todos o são.
E mais vos digo:
Sem exceção.

Meu vício (Cah Escher e eu)

És meu vício.
Sem mais, e sem menos
não importa a hora;
No fim ou no início...

Depois ou antes,
és o que preciso;
Meu corpo implora
por ti, agora!
Sem pudor, decoro ou demora

Sê meu ópio;
Me consome,
sem regras,
por horas...

teu corpo, sem amor
só vício...
Num grito, termine,
e volte ao início!

Descarte

Talvez para mal,
quiçá para bem,
agora os tem...

Que sejam diminutos,
os cinco desesperados,
torpes e débeis,
por certo inférteis,
tais cinco minutos...

Desfrute tal tempo,
no vão intento,
que julgas arte:

Faça seu juramento.
Juro minha parte,
pelo Santo Firmamento:
Tudo que disseres,
Destino terá: Descarte.

Só se quiseres

Se achares que tens de voltar, volte
se pensares ser melhor me deixar, solte
as amarras, as cordas e os medos
esqueça os segredos, as bocas e caras...
E vá.

Mas se queres voltar, saibas
que embora a saudade de ti
em meu peito já não caiba,
sobra a desilusão que vivi
certo rancor, e alguma mágoa...

Se queres mesmo voltar,
não penses apenas aportar,
não venhas por vir: demores!
Não chegues a passeio,
pois muito anseio, que ancores.