Trouxe o dia nas costas
e o peso do mundo nos ombros
e escondeu cada dissabor e lamento
num suspiro mudo
pois o pequeno dormia
silencioso e calmo
como ontem e anteontem
e antes e sempre, dormia.
Os cachos e os sonhos do inocente
docemente acomodados
no travesseiro de Camomila:
"Hei de te dar o mundo, meu filho
e o brinquedo mais bonito!
O melhor berço azul!
Na mais colorida das festas,
o mais chocolate dos bolos!
E adornos de toda sorte
enfeitarão as prateleiras do teu quarto
E terás enfim tudo!"
...
Foi-se cedo.
Ninguém esperava
e nada levou
e seu rosto já não escondia
nem as preocupações da vida
nem as noites que não dormiu
E no meio daquela gente
o pequeno então sorriu
e apontou para a grande e preta caixa:
"Mamãe, por que papai não acorda?"
E o anjo sentou ao chão
e brincou com seu caminhão verde:
Uma velha e enferrujada
lata de ervilhas vazia.
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