sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sorria

Então sorria.
Simples assim:
Mostres teus dentes,
sejas contente,
sorrias para mim!

Nem um pouco importa,
Se você está em cacos,
Pois em mim são parcos,
os sentimentos por ti.

Estampes um sorriso no rosto,
ocultes todo e qualquer desgosto,
Não importam teus sofrimentos,
não causam a mim tormento,
nem me deixam angustiado.

Como tudo que é passado,
o que sinto por nossa história,
é tão belo enquanto guardado,
N'algum canto da memória.

Fofocas

Do que fazer a falta,
para a fofoca, é prato cheio!
A boa conduta ressalta:
Não ocupar-se do que é alheio...

Quem do que é de outrem,
não se dissocia e se ocupa,
digo o que tem na cuca,
esse que se alimenta de fofocas:

Tão infrutífero e débil intento,
se não for porção de vento,
bons punhados, de minhocas!

Ao que vive, o tempo é escasso,
marca passo, quem fofoca:
Na vida é grande retardo,
quem não usa, para o seu arado,
seu quinhão de vento, e de minhocas.

Amor irrecuperável

Amor não vivido,
é amor irrecuperável...
Já amor destemido,
é doce, nobre, e afável.

Pouco de afável,
tem a paixão:
Inexorável, sim,
como um turbilhão!

Não embaraça o ser,
que dela se compraz;
A paixão é devassa:
traz fervor quando vem,
e abstinência quando passa...

O tempo a desfaz, por certo:
A paixão nunca se demora;
Sua intensidade devora:
O peito, o ideal, e alma...

E o poeta.

Monopólio

É envolvente,
o vil metal!
Torpe e demente
o jogo flui...

O oponente,
sem clemência,
o jogar,
o destitui;

Da falência,
resta o espólio...
Triste jogo,
o Monopólio!

Parnaso

Parnaso!

Formosidade!
Teu rosto...
bem verdade?!
Apraz o gosto!

Tua forma?
Parnasiana!

Beldade!
Curto nome:
Três letrinhas:
Linda Ana.

Alguns detalhes

Assaltas meus pensamentos,
nos devaneios por vezes febris,
ah! Deus sabe como quis!

Ter-te, aqui e agora,
eu clamei teu nome!

Arauto disto este poema,
mestre de alguns detalhes,
ocultos, sinceros e verdadeiros.

Das doçuras do caminho

Ah! Se todos os caminhos levassem a tua boca!
Seria a vida tão mais doce;
queria eu que assim fosse...

Simples a vida seria:
Caminharia os caminhos,
de infinitos ladrilhos,
de longos os trilhos,

Para ter nos olhos o brilho,
resultante da doçura,
de um instante de loucura,
da delícia do teu beijo!

Valiosa aliada...

Além das fronteiras de tua alma
Calma esteve minha aliada...
Grande valia teve a bendita!

Sorrateira e renitente,
insistente e matreira,
nos meandros do teu ego,
tua vontade fez carreira!

Às portas de tua boca,
Ei-la então, a minha...

E já dançam as vontades!
Titubeiam belos passos...
ai-se indo o embaraço
e se enlaçam então as línguas [...]

Menina...

Serelepe!
Por que os repeles,
tais apelos?

ocultes o querer,
mates teu Ser,
assim só se padece!

Contra isso que arde,
que bem verdade,
tem nome, é vontade:

Vão é o esforço
que o tempo esmorece...
vã é a prece
que o lábio conhece!

Dois relógios

Dois relógios

Sete dias na semana
largos passos, nobre tempo
Sendo março ou janeiro,
marcha escasso e zombeteiro.

No relógio de pulso o tempo,
é como o próprio tempo se vê,
o relógio de areia já mostra,
o que a vida não tenta esconder:

No pulso o ponteiro circunda
e fim jamais ele encontra,
a areia mostra a verdade
que ao que é vivo conta:

Enquanto a areia desce,
o tempo se esvai astuto,
e um minuto que a vida acresce,
é um minuto que vai, arguto.

O que te faz feliz?

Praia e calor,
pomada no nariz,
um beijo roubado,
um pedaço de bis!

Um mala calado!
Escapar por um triz!
Palavrão desaforado,
daqueles que não se diz!

Um quente chá de anis,
e à noite que se anuncia,
ter a companhia que quis...

Uma donzela nos modos,
na cama, meretriz!
São essas singelas coisas
que fazem disso feliz!

Pimentinha

Que teriam os dias de graça,
sem um pouco de tempero?
manhãs mornas e frias noites,
não houvesse certa pirraça!

Tive já uma pimentinha...
Ao paladar, forte sabor tinha,
seu gosto, levarei ao sempre...

Vou murmurar, ao findo momento,
quando minha vida aos olhos passar,
antes das janelas d'alma cerrar,
leve, qual prece ao vento:

Marcia, desse jeito: Sem acento!

Mundo velho (Alma livre e Eu)

Mundo velho, mundo cão,
de transtornos e solidão,
velho mundo, mudou tanto,
que já está entrando areia...

Na veia não há mais sangue,
não há nada além de pranto,
e muito causa de espanto,
que nada disso nos espante!

Na moral do velho mundo,
o que não presta pisoteia,
o que é ruim, vem aumentando,
o que é bom, ninguém semeia!

Ninguém percebe o que permeia,
o coração de quem habita,
este velho e torto mundo:
o que lá tem é pouco fecundo,
tão triste e imundo...

Deste mundo sem beira ou eira,
vem a sorte derradeira:
Virá tal sorte a cavalo,
troteando as vaidades alheias...

Será então o fim de muita coisa:

Das colheitas sem plantio,
do amor ao que é vazio,
ao niilista por natureza.

Será finda a dor,
a febre e a tristeza,
a fraqueza de caráter!

Ansiamos serem extintas,
a presteza interesseira,
a ausência de bom senso,
a falta de nobreza,
a mediocridade e a avareza,
a inércia e a pasmaceira.

Pois para o velho,
há sempre o novo,
e para o novo,
sempre há tempo...

...quando há vontade,
iniciativa,
um pouco de bondade,
e uma mente criativa...

Virá um mundo novo,
de amor sincero e puro,
do que temos de melhor,
da luz ante o escuro...

E Conhecimento livre...

Dos Políticos

Porcos: todos o são.
E mais vos digo:
Sem exceção.

Mensalinho,
Concessão,
Castelinho,
Mensalão.

Sai ano:
Eleição.
Entra ano:
Decepção.

Pelo cano,
a distinção.
Generalizo,
pois então:

Porcos: todos o são.
E mais vos digo:
Sem exceção.

Meu vício (Cah Escher e eu)

És meu vício.
Sem mais, e sem menos
não importa a hora;
No fim ou no início...

Depois ou antes,
és o que preciso;
Meu corpo implora
por ti, agora!
Sem pudor, decoro ou demora

Sê meu ópio;
Me consome,
sem regras,
por horas...

teu corpo, sem amor
só vício...
Num grito, termine,
e volte ao início!

Descarte

Talvez para mal,
quiçá para bem,
agora os tem...

Que sejam diminutos,
os cinco desesperados,
torpes e débeis,
por certo inférteis,
tais cinco minutos...

Desfrute tal tempo,
no vão intento,
que julgas arte:

Faça seu juramento.
Juro minha parte,
pelo Santo Firmamento:
Tudo que disseres,
Destino terá: Descarte.

Só se quiseres

Se achares que tens de voltar, volte
se pensares ser melhor me deixar, solte
as amarras, as cordas e os medos
esqueça os segredos, as bocas e caras...
E vá.

Mas se queres voltar, saibas
que embora a saudade de ti
em meu peito já não caiba,
sobra a desilusão que vivi
certo rancor, e alguma mágoa...

Se queres mesmo voltar,
não penses apenas aportar,
não venhas por vir: demores!
Não chegues a passeio,
pois muito anseio, que ancores.