terça-feira, 12 de junho de 2012

Antiode aos vermes

Se eu passar pela vida
sem cometer erros
ou sem esquecer
coisas importantes
sem magoar alguém que não mereça
ou sem ser magoado,
por certo não terei vivido
nem um segundo
do tempo que dispus.

Aos vermes deixarei,
meu corpo inútil
e consumido
por toda experiência
que possa ter valido a pena!

Eis a vida que não deixarei de viver:
Hei de magoar,
hei de ser magoado também!
Hei de ser torpe por vezes,
e nobre quando convier,
como todos os outros o são!

Hei de esquecer
e de ser esquecido
e hei de estar vivo,
ao menos em parte de mim,
em todo verso que escreva,
e em cada banho de chuva
que minha pele sentir!

Hei de ser mais vivo
que o verme que roerá minhas entranhas,
pois nenhum perdão vale a pena,
e nenhuma abstenção trará glória alguma!


Eis o relato prévio de minha lápide:
Não ousei poupar ninguém de sofrer,
nem a mim mesmo!
Jamais pude ser injusto para tal:
Estive ocupado demais vivendo o tempo que tive!

Tomem de mim os restos, vermes! Nada mais de mim terão,
Que não os restos de minha carcaça
podre e pútrefa
como tudo o mais que habita
este mundo insano e vil.