segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Dar-te-ei o mundo

Trouxe o dia nas costas

e o peso do mundo nos ombros

e escondeu cada dissabor e lamento

num suspiro mudo

pois o pequeno dormia

silencioso e calmo

como ontem e anteontem

e antes e sempre, dormia.


Os cachos e os sonhos do inocente

docemente acomodados

no travesseiro de Camomila:


"Hei de te dar o mundo, meu filho

e o brinquedo mais bonito!

O melhor berço azul!

Na mais colorida das festas,

o mais chocolate dos bolos!

E adornos de toda sorte

enfeitarão as prateleiras do teu quarto

E terás enfim tudo!"


...


Foi-se cedo.


Ninguém esperava

e nada levou

e seu rosto já não escondia

nem as preocupações da vida

nem as noites que não dormiu


E no meio daquela gente

o pequeno então sorriu

e apontou para a grande e preta caixa:

"Mamãe, por que papai não acorda?"


E o anjo sentou ao chão

e brincou com seu caminhão verde:

Uma velha e enferrujada

lata de ervilhas vazia.