quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Garganta

Tudo vira verso:
Tanto falta,
quanto excesso...

O tempo remedia,
tanto o que dói,
quanto o que angustia...

De tudo a vida se encarrega:
tanto do que se aceita,
quanto do que se nega...

E acerca de tudo o poeta versa:
Naquilo que versa e expressa,
Mais daquilo que à garganta

Atravessa...

A vida de um poeta

Dúvidas sempre cercam,
o pensar de escritor pesaroso:
É sabido que afetos afetam,
seu cunhar mais meritoso...

O poeta não é instrumento,
nem sua pena à qualquer outro serve:
É fruto de seu próprio tormento,
ou de algo que o enerve...

Um poeta nunca é breve,
(o que é breve não é fecundo)
e um poeta só sente-se leve,
ao tratar de algo profundo...

Enquanto usa de enxada,
as suas maiores astúcias,
revolve como toada,
o arado de suas angústias...

E tira mais que proveito,
ao buscar seu entendimento:
Por vezes algum deleito,
nesse ou naquele tormento...

Tal labuta laboriosa,
o tempo de toda essa lida,
dessa lida astuta e formosa,
é o tempo de uma vida:

Uma vida em verso e prosa.