domingo, 18 de dezembro de 2011

A escuridão dos dias de sol

Tanto quanto me esforce
em ser mais que barro e vontade
e meia verdade livre de sentir

Tanto mais anseie
de todo o meu coração
ver nisso que penso que sou
mais que processo e sentido

Quanto mais moleste
a parte disto que pensa que pensa
prisão de mim em mim mesmo
mais percebo o quão limitado sou:
Sou isso a que chamam de humano.

Quanto mais dobro as palavras
quanto mais as malho e forjo
mais dúvidas moldo

Quanto mais liberto as palavras
mais nesgas de luz-mentira
pelas persianas da consciência
atravessam

Os dias de intenso sol são os mais escuros:
Mesmo onde haja abundante luz
tudo o que eu vir será reflexo de luz
e será mentira que inventei
para esquecer que existo
sem saber por que...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Do poema para a ideia 1:

O poder da palavra está onde a palavra falha. Quem quer que dela se valha,
é falho pois dela precisa: A palavra liberta enquanto escraviza.

domingo, 12 de junho de 2011

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Tixa

Calo teus lábios
beijo tua prece
e tomo teu sono

Torno teu sonho
mundo meu
por agora

De terras minhas
as ancas tuas
e cada desejo teu

Sou mão que semeia
o solo fértil
chuva que fustiga
os campos e a relva
e também vento morno

que poliniza tuas videiras

Meu mundo é tu
e teu fruto-ventre
alimenta eu Ímpeto:
Perpetuo-me.

Tua boca emutece o suspiro
tudo mudo no fim de tudo
nem mais mundo
nem mais prece:

Apocalip-se.

A. E.

Desta feita a vi
dobrar a esquina
de um sonho meu.

Tudo era cinza
e tardio inverno.

Garoa e pele
lembravam:
eu vagava por lá.

De um tudo havia:
Pessoas medrosas
fugindo da chuva
e faróis acesos
apontando onde
a pressa alheia mandava.

E lá eu andava:
Sorrateiro seguia
tuas rotas pelas poças...

E eu lá estava:
Entre passos e moças
barulho e tumulto
febre de pressa
e delírio de horas:
Neurose coletiva dentro de mim.

E de cada si
natureza morta
compunha o cenário:
Imaginário...

E a chuva teimou
em lembrar que eu sentia:
Fria...

[...]

E se meu sonho sou eu
e teu sorrir salvação?
É certo saber o que amo
se mal sei que sou?

[...]

Onde quer que vague
levo comigo anseios de ti:
Colorir de meus sonhos.

Produto

Que sou eu
senão fim
de meus meios?

Que é coragem
senão temer
ter receios?

Que é viver
senão privar-se
de anseios?

Que é distar
senão partir errante
ou manter-se distante?

E que é morrer
Senão ao pó voltar,
Triunfante?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Eu palavra

Posso chamar de minhas
palavras que me deixam
para ganhar o mundo?

Valor algum às palavras:
apenas ao que sinto
quando as deixo ir.

...

Vai palavra
e leva de mim o pouco
o pouco que cabe em ti:

E deixa de mim o eu
o eu que de mim não larga
o eu que define o ego
esse eu que de mim é chaga!

Deixa de mim o eu
o eu que de mim é chaga
pois no eu que define o eu
vive o eu que mais agrada:

Palavra fadada a morrer muda.

domingo, 24 de abril de 2011

quarta-feira, 23 de março de 2011

Vento-Verso

tem vezes que me entendo
como um dia de inverno
e me prendo olhando o céu

pois sou eu naquelas palavras
atrás das nuvens nubladas
de um dia escuro e cinza

e faço de minhas moradas
todas as horas fadadas
a pintar na folha a paisagem

e nelas também me escondo
de mim que sou negras nuvens
e tempo.

Mas uso preto no branco
caneta e papel e tinteiro
nunca pincel ou ditos ou guache...

E para cada porção de segundos
dissipando uma nuvem distante
me escondo por horas, errante
até que um verso-vento me descubra
e eu enfim me ache.

sábado, 12 de março de 2011

Amante

Teus olhos põe ordem
no caos que sou:
Sereno perto de ti.

E teus lábios esculpem
em traçado ameno
doce convite aos meus...

Te beijo e beijas
e sorris para mim:
Quase morro de amores!

Vontade minha é nascer
e nascer e nascer dia a dia
e poder morrer em teu beijo
e descansar nas covas do teu riso

para todo o sempre.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Für Elise

a despeito da multidão
alarido de rua e de tudo
turbilhão de gente e povo
te encontraria sem ver-te.

Lá estarei
feito vulto
olhando inerte

em vigília de teus passos
um voyeur de teus jeitos
em cada passeio por onde transitas
em viela qualquer do bairro que habitas

guardarei eu um de teus lados
e dele farei minha morada:
Da tua esquerda a alma penada,
serei eu até o fim de teus dias...

O dia em que a noite perdeu

quis ouvir o silêncio
mas essa noite não pára
não tarda barulho ou outro
em visitar minha sacada...

verdes folhas das palmeiras
vestidas de cinza escuro
estalam ao gosto do vento frio
que açoita minha janela.

quis ouvir quem deixou a noite
para sempre morrer nos passos
de um passante desavisado...

noite fajuta essa!
nem pereceu noite:

o horizonte sequer foi negro
e o céu não mostrou estrelas
só cinza-chumbo-sem-graça
por trás das árvores-casas-latidos

e eu a li e batizei:
o dia em que a noite perdeu
o silêncio
o viço
e o breu...

e o encanto.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O Viking

braços e remos
prumam...

estrela polar
horizonte escuro
destino incerto...

vento favor
proa no mar
remar sem cansar
rumar, rumar...

estalam, gemem
popa, proa e leme...

vela içada
seguir estrela
o Norte à frente

memória ingrata
saúda a dama
que em terra firme
aguarda a volta...

que volta?

Corpo indolente
traz para a luz
o vento que corta...

corta na carne
sem piedade
frio e infame
vento saudade!

o fim do mundo
nos aguarda
hordas sem fim
de bravos sem nome
em lanças-escudos...

e o fim de tudo
ao alcance das mãos,
num grito mudo...

Liberdade por fim!

um remar sem temer
num sangrar de saudades
da dama que abriga
o rebento que cresce...

domingo, 23 de janeiro de 2011

O dia em que as palavras sumiram

Choveu, e só fez chover,
Foi feio, feio e nublado,
e triste, triste de doer,
o dia que as palavras sumiram!

Partiram, e não de um lábio,
nem verteram, de pena alguma,
apenas foram-se, uma a uma,
feito fila muda, e desavisada.

Endereço ou recado deixaram,
nem agrado aos ouvidos,
sopraram...

O tempo de palavras fartas,
é tempo passado, são tempos idos...

Preposição alguma ficou:
Onomatopéias calaram,
Os sujeitos morreram,
e adjetivos perderam,
seus predicados!

Voltarão as palavras,
a adoçar meus ouvidos,
descrever-me a vida,
e aguçar meus sentidos?

Voltarão, períodos,
a compor partituras,
e em arroubos divinos,
recriar criaturas,
e matá-las depois?

Tornarão a escrever,
em barulhentas pinturas,
as loucuras e tolices,
sandices bem cruentas,
que prescindem de vós?

Voltem, palavras,
sois de muito a vazão:

Toda essa mente inquieta,
tem em ti maior precisão,
pois sois também a razão,
dessa vida tão completa,
de Aprendiz, Desatino,
e quiçá um dia, de Poeta.