domingo, 23 de janeiro de 2011

O dia em que as palavras sumiram

Choveu, e só fez chover,
Foi feio, feio e nublado,
e triste, triste de doer,
o dia que as palavras sumiram!

Partiram, e não de um lábio,
nem verteram, de pena alguma,
apenas foram-se, uma a uma,
feito fila muda, e desavisada.

Endereço ou recado deixaram,
nem agrado aos ouvidos,
sopraram...

O tempo de palavras fartas,
é tempo passado, são tempos idos...

Preposição alguma ficou:
Onomatopéias calaram,
Os sujeitos morreram,
e adjetivos perderam,
seus predicados!

Voltarão as palavras,
a adoçar meus ouvidos,
descrever-me a vida,
e aguçar meus sentidos?

Voltarão, períodos,
a compor partituras,
e em arroubos divinos,
recriar criaturas,
e matá-las depois?

Tornarão a escrever,
em barulhentas pinturas,
as loucuras e tolices,
sandices bem cruentas,
que prescindem de vós?

Voltem, palavras,
sois de muito a vazão:

Toda essa mente inquieta,
tem em ti maior precisão,
pois sois também a razão,
dessa vida tão completa,
de Aprendiz, Desatino,
e quiçá um dia, de Poeta.