segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Soneto ao Tédio

Vejo o sol, sem par, tocar a mesa,
E sinto da janela, devir da brisa,
Entorpece-me sentidos, e humaniza,
Meu definhar lento, essa vagareza.

Sou do tempo essa moribunda presa,
que a poeira dos tapetes satiriza,
poeira que ilude o enredo à guisa,
de Farsa sobre minha não-presteza:

Ri-se a poeira desde o chão vadio,
de eu não ser nada senão o fastio,
de eu não ter nada senão ao tédio,

essa mesmice que de mim se apossa,
essa lerdice, lesão que me acossa,
e que tem na morte melhor remédio.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Universo

Somos poema qualquer que o agora diz,
nas cordas vocais do tempo.
Destino ou razão de um deus qualquer
para explodir-se,
razão qualquer que se afasta do centro,
e expande.

Somos parte de um todo que não entendemos,
somos parte de um todo grande demais
para que o entendamos,
e somos filhos da terra que um dia foi cosmo,
e somos o ócio do caos que se estrutura,
por ser energia veloz que desrespeita ao ócio.

Somos filhos da água que um cometa trouxe,
e luz que perde a viagem e aceita um corpo,
pois só assim é livre de ter com o meio.

E temos na chuva e na pele,
e na beleza verde das marés,
e no toque de seda dos ventos de primavera,
razão divina do deus qualquer que somos,
de sermos plenos, gratos, e felizes:
Somos parte viva do poema que o agora diz,

nas linhas curvas do tempo.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Acrostarquia

Apenas
poetas
enxergariam,
nesta
anarquia
sonolenta,

uma
manipulação
acróstica,

palavras
aladas,
lavrando
avessos
versos,
remando
alíneas,

por
onde
rumam,

linhas
insanas,
notas
humanas
absortas.

domingo, 9 de agosto de 2015

Tarde verde

É tarde verde, sentai e vede, raso e ralo, o regato, levando ao acaso, regalo aos olhos, folha caída, antes árvore e vida, e agora, corrente. É tarde verde, sentai e vede, o Presente. Calai mente e coração, e contemplai e senti, o sabor do acaso, que o tempo regala: Tudo o que foi ponto, explodiu e foi caos, e agora o É, Verde e Belo, Dádiva e Fluxo.