quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Ventar


Lá fora o vento venta
como quisesse ser ouvido
no gemer dos galhos da figueira frondosa

lá fora o vento venta
como quisesse ser visto
no fremir dos vidros da janela velha
ou no balançar dos vestidos
das pressas que passam

lá fora o vento venta
cantiga que é canto e conta
donde ele veio e pr’onde vai

e aqui dentro o vento
que venceu a janela
e balançou a cortina
toca meu rosto
como quisesse ser sentido...

e o vento que é sentido
visto e ouvido
não sente, nem vê ou ouve
mas houve:
nos vidros e vestidos
nas copas e cortinas
e em mim,

frio como estou...