Abraço a tristeza
como uma velha amiga
que me traz versos.
Flertamos,
antecipando um coito
impuro e incomedido.
Trepamos.
No fim,
ela me abraça,
e não me quer deixa ir:
Diz que sente minha falta,
que tem saudades de meus versos,
e que eles eram tão seus,
e que tem ciúmes das coisas,
segundo ela menos bonitas,
que tenho escrito às outras.
Ela diz que gostaria de estar
nas linhas que tenho escrito,
e diz que éramos um,
feito carne e unha.
Eu a fito,
nua,
e sorrio.
Eu a fito e olho dentro dela
com a propriedade de quem a conheceu
como poucos.
Olho dentro dela
apenas por olhar,
sem rancor ou saudade.
Estamos ali,
ocupando o mesmo quarto,
mas não mais a mesma alma.
Eu a solto e me afasto,
e ela se vai, silenciosa.
E,
enquanto termino esses versos,
já somos estranhos.
terça-feira, 27 de setembro de 2016
Tristranhos
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